Este cordel é do Site Poeta potiguar que fez a comovente história de um amigo de Sítio Novo -RN.
Tarcísio
Medeiros, um homem bom de família tradicional naquela cidade sofreu um
duro golpe do seu destino, quando em 2010 sofreu um A.V.C HEMORRÁGICO
(Derrame Cerebral), lhe tirando os movimentos do lado esquerdo do seu
corpo, deixando sequelas físicas para o resto da sua vida.
Toda a história que conto aqui, foi narrada por ele em um texto que me mandou via e-mail e foi transformado em poemas por mim.
Leiam e se emocionem:
Eu sou Tarcísio Medeiros
É como sou conhecido
Eu vou tentar resumir
O que tem me acontecido
Guarde bem essa história
Ou registre na memória
Meus momentos de alegria,
Se gostar de mim me abrace
Se não gosta, não disfarce
É assim meu dia-a-dia.
Já no começo da vida
Perdi o meu pai querido
Sinto saudades ás vezes
Mesmo sem ter conhecido
Eu com dois anos de idade
Mal saberia a saudade
Daquela triste partida,
Estranho, meu peito salta
É que hoje sinto falta
De quem nunca vi na vida.
Nasci em sessenta e cinco
Uma criança feliz
Sou de família humilde
Não tive tudo que quis
Sem luxos, sem mordomia
Brinquedo não conhecia
Tempos de dificuldades,
Era feijão sem mistura
Quando tinha rapadura
Era grande novidade.
Era café com farinha
Para começar o dia
Bolo de leite, bolacha
Em casa não existia
Minha mãe nos educava
E as vezes triste falava:
-Não tem nada pra jantar!
Ia dormir sem comer
Chorava pra ninguém ver
Sem nada pra alimentar.
As vezes não tinha água
Quando a seca castigava
Nem água pra tomar banho
E quando a sede apertava
Meia noite ia buscar
Lá no Sítio Trapeá
Era aquele sofrimento,
Nem banho às vezes tomava
E o carma só aumentava
Sem água e sem mantimentos.
Sempre fui um bom menino
Educação não faltou
Minha mãe sempre correta
Com firmeza me educou
Se falasse um palavrão
Arrumava confusão
Mesmo que fosse inocente,
Não seria perdoado
E pelo que foi falado
Dormia de couro quente.
Ano de setenta e quatro
Aos nove anos de idade
Eu fui conhecer São Paulo
Aquela imensa cidade
Com minha mãe do meu lado
Fiquei impressionado
Com aquela imensidão,
Voltei de lá encantado
Se eu fosse emancipado
Não tinha voltado não.
Com nove anos depois
Já com meus dezoito anos
Com um cabelo estiloso
Bonito e cheio de planos
Pra São Paulo retornei
Onde por lá trabalhei
Em busca de estrutura,
E fiz carreto nas feiras
Longe das grandes porteiras
Longe da agricultura.
Retornei pra Sítio Novo
No auge da adolescência
E deixei lá em São Paulo
Toda aquela inocência
Com dinheiro pra gastar
Sem nada me preocupar
Namorada não faltava,
Fui o sonho das donzelas
Igual ator de novelas
Chega os cabelos voavam.
E uma paixão acabou
Minha vida de solteiro
Com responsabilidade
Ganhei meu próprio dinheiro
Saí da agricultura
Trabalhei na prefeitura
Chico Camilo o prefeito,
Sítio Novo melhorou
E muita coisa mudou
Quando ele foi eleito.
A Solange engravidou
Fiquei emocionado
Falei vai ser um menino
Pra correr atrás de gado
Era um sonho que eu tinha
De ver uma cria minha
Como eu, puxando boi,
Mas no fim nasceu menina
Tão frágil, tão pequenina
E aquele sonho se foi.
Foi o bem mais precioso
Que um dia pude ganhar
Eu me lembro como agora
Quando começou andar
Uma criança tranquila
Dei o nome de Camila
Uma linda menininha,
Uma promessa cumprida
Nome da minha querida
Nome da minha mãezinha.
Depois veio Caliane
A minha segunda filha
Também Ana Catarina
A terceira maravilha
Que só depois de crescer
Que eu pude conhecer
Aos 22 de idade,
De um outro casamento
Relembro aquele momento
Com grande felicidade.
Metamorfose da vida
Que temos que aceitar
Quando a Camila cresceu
E um dia quis casar
Fiquei muito chateado
Não estava preparado
Para a tal situação,
Mas pensei por um segundo
Filhos são feitos pra o mundo
Não importa a criação.
Depois de um tempo entrei
No ramo de padaria
Às três horas da manhã
Acordava todo dia
Sempre muito dedicado
Minha esposa do lado
Sempre juntos caminhando,
E o destino sem falha
Que corta mais que navalha
Estava se aproximando.
E assim como de costume
Um dia me levantei
Dia 09 de dezembro
Eu jamais esquecerei
Comecei a passar mal
Um derrame cerebral
Quase veio me matar,
Graças ao nosso divino
Que Antônio Belarmino
Chegou para me salvar.
Em “coma” por 13 dias
Quase sem ter esperança
Um túnel longo e escuro
Minha única lembrança
Eu lembro que eu andava
Uma luz se destacava
Lá no fim, muito distante,
Lembro que eu retornei
E em susto acordei
Naquele exato instante.
Eu já acordei chorando
Sem poder nem me mexer
Não sentia minhas pernas
Também não podia ver
Um olho sem a visão
E sem mexer uma mão
Chorava no hospital,
Um dos meus lados mexia
O esquerdo não respondia
E eu ali passando mal.
Na hora o médico entrou
Eu chorava sem parar
Entrou a minha família
Vieram me explicar
Foi na hora que entendi
Que ali quase morri
Sem nem uma despedida,
Começava vida nova
Trazendo as maiores provas
Que alguém pode ter na vida.
E finalmente eu voltei
Pra casa naquele dia
Deitado em uma cama
E ali nem me mexia
E só vivia a chorar
Por medo de não andar
Nem ter recuperação,
Relembro emocionado
Minha filha do meu lado
Dormindo em um colchão.
Era um anjo da guarda
Uma alegria sem fim
No chão do lado da cama
Só para cuidar de mim
E quando a dor apertava
Ela me massageava
Eu agradeço a ela,
Nunca me deixava só
Cuidou de mim bem melhor
Do que eu cuidava dela.
Daí fui me conformando
Conforme o tempo passava
Com pouco tempo depois
A Camila engravidava
E ela me prometeu
Que aquele sonho meu
Iria realizar,
E a ultra-sonografia
Revelou a alegria
Foi difícil segurar.
Depois que nasceu meu neto
Eu fiquei sem reação
Tão grande era a alegria
Que apertava o coração
E desse dia pra cá
Tudo começou mudar
Ele me trouxe alegria,
O meu quadro evoluiu
Meu neto contribuiu
Junto à fisioterapia.
Já ajudei muita gente
E hoje não posso mais
Não tolero sofrimento
Fome e sede jamais
Peço a Deus nosso guia
Que me mostre a cada dia
O mais lindo amanhecer,
Meu deus me mostre o caminho
Olhe pelo meu netinho
Me deixe vê-lo crescer.
Peço a deus que não me leve
Antes que eu veja um dia
Meu neto em um cavalo
Fazendo o que eu mais queria
Tangendo uma boiada
Correndo nas vaquejadas
De pensar meu peito chora,
Falarei com muito amor
Obrigado meu senhor
Pode me levar agora.
Hoje um lado do meu corpo
Está inutilizado
Sequelas pra vida inteira
Meu fardo ficou pesado
Fico sempre em meu abrigo
Sinto falta dos amigos
Que nunca vem visitar
Foram muitas amizades
Lembrando sinto saudades
E triste venho a chorar.
Até mesmo as vaquejadas
Que é minha grande paixão
Nesta cadeira de rodas
Relembro com emoção
Quantas festas fui na vida
Quanta alegria vivida
Aqui só, sinto saudades,
Esta angustia me arrasa
Hoje pra sair de casa
Eu tenho dificuldades.
Minha maior alegria
É minha linda família
Sempre esteve ao meu lado
Foi a minha maravilha
Pois amigo de verdade
Na grande dificuldade
Do seu lado vai estar,
Falo sem nenhum segredo
Hoje eu conto a dedo
Quem veio me visitar.
Não é dinheiro que eu quero
E que eu sinto saudade
De uma palavra amiga
Um gesto de amizade
Sempre me pego chorando
Muitas vezes relembrando
Campanhas eleitorais,
Eu dei o melhor de mim
E agora que estou assim
Ninguém nem me olha mais.
Sinto a vida escapando
Sem nada eu poder fazer
Apesar da alegria
Que eu tenho de viver
Se eu for, sentirei saudade
De amigos de verdade
Que guardo no coração,
Chegando ao fim a jornada
Sepultando a vaquejada
A minha grande paixão.
Autor: Valdeilson Ribeiro
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