Já são nove as empresas investigadas pelos Ministérios Públicos do
país por suspeita de formação de pirâmide financeira, segundo
levantamento da Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor
(MPCON).
Embora o caso mais conhecido seja o da Telexfree, cujas atividades
foram suspensas pela Justiça do Acre, o país tem registrado nos últimos
meses um “boom” de empresas que têm entrado no mercado se valendo de
estruturas com “fortes indícios” de pirâmide e “golpe”, afirma o
promotor de Goiás Murilo de Moraes e Miranda, presidente da MPCON.
“Até quinta-feira eram oito as empresas investigadas. Agora já são nove”, diz Miranda, em entrevista ao G1.
Segundo ele, os inquéritos e procedimentos administrativos começaram a
ser abertos há cerca de quatro meses. O promotor não quer adiantar,
entretanto, os nomes das empresas investigadas.
“O esquema de pirâmide existe há mais de 60 anos. A diferença agora
está na velocidade que estas redes aparecem e se expandem entre cidades e
estados. Com a internet e a publicidade virtual, atingiu parâmetros que
não passavam nem próximo do que estamos vendo”, explica.
MP estuda novos pedidos de suspensão
Por enquanto, a única ação judicial julgada foi a apresentada pela MP do Acre contra a Telexfree, com abrangência nacional. O presidente da MPCON afirma, entretanto, que outras empresas devem ser alvo de denúncia à Justiça.
Por enquanto, a única ação judicial julgada foi a apresentada pela MP do Acre contra a Telexfree, com abrangência nacional. O presidente da MPCON afirma, entretanto, que outras empresas devem ser alvo de denúncia à Justiça.
“Para os casos que a aparência de pirâmide se constatar, as medidas
deverão ser as mesmas pedidas no Acre: suspensão das atividades e
bloqueio de bens para tentar e ressarcir os consumidores”, diz Miranda.
“Os Ministérios Públicos estão preparados caso houver alguma reversão da
decisão do Acre para ingressarem em seus estados com o mesmo pedido
contra a Telexfree”, acrescenta.
Crime contra a economia popular
O promotor lembra que, pela legislação brasileira, a prática de
pirâmide financeira se configura crime contra a economia popular. A lei
n° 1.521, de 26 de dezembro de 1951, estabelece pena de 6 meses a 2 anos
de prisão, além de multa, para o crime de “obter ou tentar obter ganhos
ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas
mediante especulações ou processos fraudulentos (“bola de neve”,
“cadeias”, “pichardismo” e quaisquer outros equivalentes)”.
“Num esquema piramidal, a base sustenta quem está no topo. Ou seja,
quanto mais a rede cresce, mais gente vai perder dinheiro a custa de um
golpe de captação da poupança popular, com a venda de algo que, na
prática, não existe”, explica o presidente da associação de promotores.
As empresas sob alvo do MP também são investigadas por suspeita de
outros crimes relacionados como lavagem de dinheiro e remessa para o
exterior.
O MPCON está elaborando uma minuta de projeto de lei para transformar
a pirâmide financeira em crime contra a ordem econômica e aumentar a
pena para até 5 anos de reclusão, com a possibilidade ainda de agravante
de mais um terço em caso de utilização de publicidade na internet.
Empresas negam pirâmide e pedem regulamentação
A Telexfree nega a prática de pirâmide financeira ou de qualquer ilegalidade. A empresa afirma praticar o chamado marketing multinível ou de rede. “Já faz um ano que a empresa está sendo investigada, mas a questão é que não há no país uma legislação que trate de marketing de rede. Por isso, exortamos que o Congresso legisle sobre esta matéria”, afirma ao G1 o advogado da empresa, Horst Fuchs.
A Telexfree nega a prática de pirâmide financeira ou de qualquer ilegalidade. A empresa afirma praticar o chamado marketing multinível ou de rede. “Já faz um ano que a empresa está sendo investigada, mas a questão é que não há no país uma legislação que trate de marketing de rede. Por isso, exortamos que o Congresso legisle sobre esta matéria”, afirma ao G1 o advogado da empresa, Horst Fuchs.
Segundo ele, “a venda de pacotes de telefonia VoIP conta com a
indicação de consumidores que são remunerados à exata medida de novos
consumidores” e que “a recompensa é resultado da indicação e não da
adesão”. “O marketing multinível, quando remunera sobre o consumo e não
sobre o valor das adesões, não configura, obviamente, uma pirâmide
financeira”, argumenta.
A empresa BBom, que em três meses já reuniu mais de 200 mil associados e que também é alvo de investigação do MP,
nega a prática de pirâmide ou de qualquer ilegalidade. Segundo o
diretor de marketing da empresa, Ednaldo Bispo, é preciso “separar o
joio do trigo” e distinguir a pirâmide do marketing multinível.
“A gente entende a preocupação do MP, mas não queremos a nossa imagem
associada a modelos que estão sendo alvo de questionamento. Pirâmide
vende dinheiro e não produto e serviço como é o nosso caso”, diz o
diretor da empresa de rastreadores veiculares. “Também vendo rastreador
porta a porta. Nosso negócio não vem da entrada de pessoas, mas da
prestação de serviço”, acrescenta.
Como a Telexfree, a empresa defende uma regulamentação do modelo de
negócio. “Faltam parâmetros sobre o que é de fato marketing multinível.
Por isso seria importante uma regulamentação”, afirma o porta-voz da
BBom.
O MPCON não vê, entretanto, qualquer necessidade de regulamentação
complementar para o marketing multinível. “Quando é pirâmide e golpe dá
para perceber facilmente, pois não há objeto de venda, só aparência. O
que importa é a circulação de dinheiro”, afirma Miranda.
Fonte: Blog Robson Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário