segunda-feira, 18 de maio de 2015

Internet comercial brasileira faz 20 anos


Estar conectado hoje, segundo a ONU, é um direito humano. Há 20 anos, quando poucos tinham esse privilégio, o Brasil e o mundo viam o nascimento daquilo que mudaria tudo. O acesso comercial à rede (antes reservada a computadores em universidades em diversos países) foi o que permitiu o surgimento de enciclopédias abertas, ferramentas de comunicação em diferentes formatos, publicadores de notícias e do comércio eletrônico.

No início, a internet era uma rede que ligava universidades ao redor do mundo. O Brasil, por exemplo, se conectava a outros países através de redes que partiam da Fapesp, do Laboratório Nacional de Computação Científica, no Rio, e da UFRJ. Foi na Conferência Rio-92 que o País teve sua primeira grande experiência online, conectando-se às redes acadêmicas dos EUA. Foi no evento, inclusive, que a Agência Estado, agência de notícias do Grupo Estado, teve sua primeira experiência de cobertura online em tempo real.

Nessas redes, surgiram então os chamados BBS, uma forma rudimentar anterior à web (www) que permitia troca de arquivos e comunicação via correio eletrônico (o bom e velho email). No Brasil, dois se destacaram, o comandado por Paulo Cesar Breim e o outro pelo empresário Aleksandar Mandic.
Foi em 1994 que uma comitiva, com o então superintendente da área de informática da Fapesp, Demi Getschko, negociou os primeiros blocos de IP para o Brasil, que já tinha conquistado anos antes o domínio .br.

No ano seguinte, provedores passariam a oferecer, finalmente, o acesso à ponta final. Era o que faltava. Bancos (Bradesco, Unibanco, Credicard, o antigo Banespa), sites de notícias (como o pioneiro “agestado.com.br”), empresas e organizações (como Itautec, IBM, Tectoy, Chevrolet e Philco) garantiram seu espaço na rede e registraram os primeiros domínios brasileiros.
Em janeiro de 1996, a equipe do recém-nascido Comitê Gestor da Internet registrava 851 domínios. Chegando ao nosso presente, o mês de abril encerrou com mais de 3,6 milhões de “pontos br”. Confira os depoimentos de personagens que participaram dessa história:



Paulo Cesar Breim (PCB)

Criador do primeiro domínio .com.br

Em 1986, eu montei um BBS, o Canal Vip. Eu mesmo escrevi, por isso virei uma espécie de referência, o que me levou a fazer o internet banking de vários bancos brasileiros. Era um universo pequeno de usuários, já que só quem tinha modem e linha telefônica, que era muito cara na época, podia usar – o Mandic (veja ao lado) usava, inclusive. Antes, só existia a rede acadêmica da Fapesp. Aí em 1993, eu fui conversar com o Demi para saber se a gente podia ter correio eletrônico. Deu certo. Ganhamos vários usuários, muitos deles eram pais de jovens que estudavam nos EUA – era mais barato trocar e-mail do que ligar. Na época, eu disse para uma revista que ‘no futuro, quem não quiser um computador em casa, estará na mesma situação de quem não tem um telefone hoje’ e estaria desligado do mundo. Em 95, a Embratel passou a oferecer conexão e eu migrei e registrei o meu .com.br. Foi uma febre! Surgiram muitos provedores e a competição ficou difícil. Vendi minha empresa – por sorte, antes da explosão da bolha – e me dediquei a trabalhar com bancos e me especializei em perícia criminal digital.

Do Blog Estadão

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