O período do inverno no sertão caminha para o final e, se não chover com regularidade nos próximos 30 dias, o Rio Grande do Norte terá mais um ano de seca. Com uma dificuldade a mais: nunca os reservatórios de água estiveram num nível tão baixo como agora. De acordo com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), existem hoje 16 reservatórios em “volume morto”, ou seja, a água não serve para abastecimento humano. Nessa situação estão o Açude Gargalheiras, com capacidade para acumular 44 bilhões de litros e água, e a Barragem de Pau dos Ferros, no Alto Oeste, de 55 bilhões de litros.
O chefe do Setor de Meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária(Emparn), Gilmar Bristot, admite que o acumulado de chuvas nos primeiros três meses e meio de 2015 indica tendência de seca, exceção apenas da região de Angicos, onde choveu acima do normal para a média histórica de chuvas no município, um acumulado de 445 milímetros na última semana de março.
Para ele, só um volume de chuvas de 1.000 milímetros nas cabeceiras das bacias hídricas, poderá recuperar a capacidade dos principais reservatórios de água do Rio Grande do Norte, onde a região semiárida compreende mais de 90% do seu território de 53 mil quilômetros quadrados.
Porém, Bristot acredita que mesmo não chovendo o suficiente para recuperar, parcialmente, os reservatórios de água, barragens como Umari (Upanema), Santa Cruz (Apodi) e Armando Ribeiro Gonçalves (Assu), que são as maiores do Estado e estão com 30% de sua capacidade máxima, “dão sustentabilidade hídrica” à população, embora “possa ter prejuízo para o agronegócio, que depende da irrigação para produzir alimentos”.
Os municípios que atingiram o maior volume de chuva este ano, até ontem, foram Portalegre 625 milímetros, Natal 504, Martins 474, Parnamirim 466, São Rafael 451 e Angicos. Localizado na área serrana do Alto Oeste, Portalegre, mesmo com os 655 milímetros registrados este ano ainda não tingiu a marca mínima 654,7 mm, a partir da qual o inverno é considerado normal no município.De acordo com os parâmetros usados pela Emparn, os dados coletados entre 1º de janeiro e 14 de abril mostram o seguinte quadro no RN: Muito Seco 126 municípios; Seco seis; Normal um (Angicos). Sem informações 34.
O diretor presidente do Instituto de Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), Josivan Cardoso Moreno afirmou que o órgão vem monitorando a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos, “priorizando a segurança do abastecimento humano”.
Josivan Cardoso explicou que desde 2013, quando foi sancionada a lei de criação do Igarn, o órgão vem passando por uma transição e recebendo atribuições, que hoje são executadas em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), que é responsável pela implementação de políticas públicas e gerenciador de recursos para a área e com o próprio Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs).
Cardoso explica que o Igarn já é responsável pela outorga e licenças para a execução de obras hidráulicas e do direito ao uso de recursos hídricos. Agora, o Igarn, segundo ele, está passando a monitorar a qualidade e quantitativo dos 45 reservatórios de água com capacidade acima de cinco milhões de metros cúbicos. Segundo Cardoso, existem algumas dificuldades para o monitoramento real de algumas barragens e açudes, mas ele explica que onde há régua métrica, como secaram, não existe como fazer mais a medição. Mesma coisa vale para os mais de 50% dos reservatórios que já são monitorados por satélite, a partir de um sistema automático de medição (PCD), sendo que alguns deixaram de funcionar também porque não tem o que medir, devido a seca.
Tribuna do Norte
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