quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Natal: Estudante será transferida de escola

Além de definir o futuro escolar da adolescente, a reunião discutiu possíveis motivos que levaram a aluna cometer o ato de violência
A estudante da 7ª série da Escola Estadual Belém Câmara, que ameaçou a professora de Matemática na última sexta-feira, vai ser transferida para outra escola. A decisão foi discutida em reunião realizada ontem com a presença da direção da escola, conselheiros tutelares e representantes da secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seec). A aluna concorda com a proposta, pois acha que não será mais aceita no ambiente escolar onde estudava. Em entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE, a adolescente disse que não sabe por que apontou uma arma para a professora e pediu que ninguém a julgasse.

Além de discutir o futuro escolar da adolescente, o encontro de ontem teve como norteador a tentativa de descobrir os motivos que levaram a adolescente a cometer o ato de violência e, mais que isso, definir alternativas para evitar novos episódios como aquele registrado na última sexta-feira. A possibilidade de implantar uma vistoria nas bolsas dos alunos foi descartada. “Este foi um episódio pontual. A violência é uma questão estrutural presente em todos os setores da sociedade. A escola não é uma ilha”, disse o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Paz nas Escolas, ligado à Seec, João Maria de Moura.

Ainda segundo João Maria, é preciso implementar um trabalho de conscientização junto às famílias e fortalecer o projeto pedagógico da escola. “Não esquecendo a formação continuada dos educadores”, colocou o representante da Seec.

Na tentativa de implantar a “cultura de paz” dentro da escola,   o Conselho Tutelar Oeste tomou a dianteira. O conselheiro tutelar Marcílio Bezerra, desde a última segunda-feira, visita a unidade para conversar com professores, pais e alunos. Além de conselheiro tutelar na região onde a Belém Câmara está localizada, Marcílio é policial militar e atua no Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd). Há outro elemento que impulsiona o trabalho do conselheiro: ele é ex-aluno da escola. “Essa escola teve papel importante na minha formação. É muito triste voltar aqui para tratar de um assunto como esse”, disse. 

Avaliação psicológica

O Conselho Tutelar Oeste providenciou uma vaga em outra escola para a adolescente. Também articulou junto ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Felipe Camarão o atendimento psicológico. A primeira consulta foi realizada ontem. O acompanhamento do profissional, aliás, será fundamental para decidir os próximos passos da aluna. “A transferência dela depende da avaliação psicológica. Não sabemos se ela tem condições de voltar para dentro da sala de aula”, ponderou Bezerra.

Segundo o conselheiro tutelar, o histórico familiar da garota é conturbado. A informação foi confirmada por uma tia da adolescente. “O pai dela morreu, de cirrose, quando ela ainda era nova. A mãe se teve relacionamento com outros homens envolvidos com drogas. O clima na casa não era bom. Ela sempre foi calada e, com seis anos, fugia de casa”, contou ao lado da adolescente. A garota conversou com a TN [veja entrevista]. Ela demonstrou arrependimento. As mãos sempre juntas e o rosto curvado, na maior parte do tempo, demonstraram arrependimento e nervosismo. 

A colaboradora e psicóloga do Observatório da População Infantojuvenil em Contexto de Violência (Obijuv), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Daniela Rodrigues, afirmou que o caso da adolescente não pode ser tratado isoladamente. Para ela, a violência no ambiente escolar é causada por inúmeros fatores que precisam ser analisados. “Precisamos verificar, primeiramente, como é a construção dos nosso diálogos. A violência é construída diuturnamente. Não podemos tratar um caso isolado”, comentou. 

A psicóloga ainda comentou a transferência da adolescente da atual escola. Para ela, é fundamental que o direito ao ensino seja assegurado e é possível trabalhar a comunidade escolar, e a própria aluna, para o retorno ao ambiente escolar original. “O fato de transferir a aluna é um ato de proteção para adolescente ou sociedade?”, questionou. “Para o senso comum, a escola deve ter o comportamento punitivo. Essa mentalidade precisa ser repensada”, disse a psicóloga.

memória

Com um revólver calibre 38 em mãos, a estudante de 15 anos da Escola Estadual Belém Câmara, no bairro Cidade da Esperança, Zona Oeste de Natal, ameaçou a professora de matemática Norma Suely, de 51 anos. Após ser impedida de atirar na professora por um guarda patrimonial, ela disparou acidentalmente contra o próprio pé. A professora não teve ferimentos e a adolescente foi levada ao pronto-socorro Clóvis Sarinho, onde recebeu atendimento. O incidente ocorreu às 13h30 da última sexta-feira.

Na delegacia, a garota disse que não tinha intenção de matar a professora, mas sim dar um susto, e declarou-se arrependida. De acordo com o delegado Pedro Paulo Galvão, que estava na Delegacia de Plantão zona Sul, a adolescente será autuada por ameaça e porte ilegal de arma. Após ser ouvida, ela foi encaminhada para fazer exame do corpo de delito no Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep).

O fato será investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento ao Adolescente (DEA).

Fonte: Tribuna do Norte

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